SINALIZAÇÃO FONÉTICA EM INGLÊS

 

Sinalização fonética (SF), em lingüística, é a quantidade de som articulado por unidade de significado. Tomando-se a sílaba como unidade de som articulado e a palavra como unidade de significado, pode-se facilmente determinar o grau de sinalização fonética (SF) de uma língua em sílabas por palavra.

Diferentes línguas podem ter diferentes graus de sinalização fonética (SF). Ou seja, podem ter um número maior ou menor de sílabas por palavra. Ao compararmos o inglês e o português, observa-se uma diferença acentuada, com o inglês revelando uma sinalização fonética significativamente reduzida.

Em primeiro lugar, o número de palavras monossilábicas em inglês é claramente superior quando comparado ao português. Ex:

MONOSSILÁBICAS
ball / bo-la
beer / cer-ve-ja
black / pre-to
book / li-vro
boy / me-ni-no
brick / ti-jo-lo
bus / ô-ni-bus
car / car-ro
cat / ga-to
chair / ca-dei-ra
cheese / quei-jo
coat / ca-sa-co
corn / mi-lho
cup / xí-ca-ra
dog / ca-chor-ro
door / por-ta
doll / bo-ne-ca
dream / so-nho
eat / co-mer
food / co-mi-da
fruit / fru-ta
fuel / com-bus-tí-vel
girl / me-ni-na
glass / vi-dro
ham / pre-sun-to
head / ca-be-ça
hot / quen-te
house / ca-sa
left / es-quer-do
pen / ca-ne-ta
man / ho-mem
map / ma-pa
milk / lei-te
red / ver-me-lho
room / quar-to
school / es-co-la
sit / sen-tar
sleep / dor-mir
shoe / sa-pa-to
speak / fa-lar
stone / pe-dra
tree / ár-vo-re
trip / vi-a-gem
truck / ca-mi-nhão
wall / pa-re-de
war / guer-ra
watch / re-ló-gio
when / quan-do
white / bran-co
wife / es-po-sa
wine / vi-nho
wood / ma-dei-ra
word / pa-la-vra
work / tra-ba-lho
world / mun-do
write / es-cre-ver

Mesmo buscando-se palavras monossilábicas do português para comparar com o inglês, dificilmente encontra-se um número superior de sílabas em inglês:

ar / air
boi / ox
bom / good
céu / sky
chá / tea
chão / floor
dar / give
dez / ten
dois / two
dor / pain
eu / I
giz / chalk
ir / go
lá / there
lã / whool
lei / law
ler / read
luz / light
mal / bad
mão / hand
mar / sea
mês / month
não / no
nós / we
um / one
pá / spade
pão / bread
par / pair
pau / stick
paz / peace
pé / foot
pó / dust
quem / who
rei / king
sal / salt
seis / six
sim / yes
sol / sun
som / sound
sul / south
trem / train
três / three
tu / you
ver / see
voz / voice

Até mesmo palavras polissilábicas e de origem comum, quando comparadas entre os dois idiomas, mostram uma clara tendência a redução em inglês. Ex:

POLISSILÁBICAS
ac-cess / a-ces-so
a-gri-cul-ture / a-gri-cul-tu-ra
air-plane / a-vi-ão
ca-len-dar / ca-len-dá-rio
cho-colate / cho-co-la-te
ci-ty / ci-da-de
com-pu-ter / com-pu-ta-dor
cre-a-tive / cri-a-ti-vo
de-part-ment / de-par-ta-men-to
dif-ference / di-fe-ren-ça
gram-mar / gra-má-ti-ca
im-por-tant / im-por-tan-te
in-tel-li-gent / in-te-li-gen-te
ma-chine / má-qui-na
mo-dern / mo-der-no
me-thod / mé-to-do
mu-sic / mú-si-ca
na-ture / na-tu-re-za
po-li-tics / po-lí-ti-ca
prin-ter / im-pres-so-ra
pro-cess / pro-ces-so
pro-ject / pro-je-to
psy-cho-lo-gy / psi-co-lo-gi-a
pu-blic / pú-bli-co
qua-li-ty / qua-li-da-de
stu-dent / es-tu-dan-te
te-le-phone / te-le-fo-ne
tem-pera-ture / tem-pe-ra-tu-ra
trans-port / trans-por-te
ur-gent / ur-gen-te

Embora raras, existem, naturalmente, algumas exceções:

al-guém / some-bo-dy
a-vô / grand-fa-ther
ca-ro / ex-pen-sive
cem / hun-dred
cor / col-or
cu-nha-do / bro-ther-in-law
fe-roz / fe-ro-cious
flor / flow-er
já / al-rea-dy
jor-nal / news-pa-per
len-ço / hand-ker-chief
mãe / mo-ther
ma-triz / head-quar-ters
mel / hon-ey
mil / thou-sand
nin-guém / no-bo-dy
noi-va / fi-an-cée
nu / na-ked
on-tem / yes-ter-day
on-ze / e-le-ven
pai / fa-ther
pa-ra-béns / con-gra-tu-la-tions
plá-gio / pla-gia-rism
pro-nún-cia / pro-nun-cia-tion
quan-tos / how-ma-ny
ra-mal / ex-ten-sion
re-ser-va / re-ser-va-tion
réu / de-fen-dant
rim / kid-ney
rio / ri-ver
sem / with-out
tio / un-cle

Em frases, a diferença tende a aumentar devido à estruturação gramatical mais compacta do inglês. Ex:

Let's-work. (2)
I-like-be-er. (4)
A-brick-house. (3)
Help-me-please. (3)
How-old-are-you? (4)
Where's-the-bath-room? (4)
I'd-like-some-cof-fee-please. (6)
Third-world-coun-tries-are-
fac-ing-e-co-no-mic-pro-blems.
(13)
--------------
TOTAL: 39 sílabas
34%
(5) Va-mos-tra-ba-lhar. (7) Eu-gos-to-de-cer-ve-ja. (8) U-ma-ca-sa-de-ti-jo-los. (7) A-ju-de-me-por-fa-vor. (7) Quan-tos-a-nos-vo-cê-tem? (7) On-de-fi-cao-ba-nhei-ro?(11) Eu-gos-ta-ri-a-deum-ca-fé-por-fa-vor.
(24) Os-pa-í-ses-do-ter-cei-ro-mun-do-es-tão-
en-fren-tan-do-pro-ble-mas-e-co-nô-mi-cos.
--------------
76 sílabas
66%

Uma simples estatística usando-se qualquer amostragem mostra sempre um fato revelador: comparado ao inglês, o português oferece quase o dobro de SF!

O inglês é uma língua cujo ritmo é menos silábico do que o português, o que pode dificultar a definição das sílabas (Veja Ritmo e o Fenômeno de Redução de Vogais em Inglês). Isto entretanto não invalida mas, sim, reforça o argumento aqui apresentado, pois esta característica do inglês conhecida como stress-timing representa uma compressão de sílabas atônicas e uma redução adicional da sinalização fonética.

Este grau superior de compacidade do inglês é evidente e acentuado na língua falada, mas não se limita a ela, podendo ser observado também na língua escrita. Veja Sinalização Ortográfica.


A IMPORTÂNCIA DA SINALIZAÇÃO FONÉTICA

Difficulties in second-language speech recognition are strongly influenced by the quantity of phonetic information provided by the target language as compared to the learner’s mother tongue.

O grau de dificuldade de entendimento oral da língua é inversamente proporcional ao grau de SF. Isto é: quanto menor a SF, tanto maior a dificuldade de assimilação da língua. A dificuldade fica mais evidenciada no aprendizado de línguas estrangeiras, no caso da língua-alvo ter uma SF mais escassa do que a língua materna do aprendiz.

É este exatamente o caso de brasileiros que aprendem inglês. A nossa língua oferece uma SF claramente superior, como demonstrado nos exemplos acima. É como se estivéssemos acostumados a identificar objetos num ambiente bem iluminado e passássemos a ter que identificá-los na penumbra.

Além de se constituir num fato praticamente óbvio, estudos de fonoaudiologia também já demonstraram que a baixa média de sílabas por palavra do inglês representa uma dificuldade maior de percepção por oferecer uma menor sinalização fonética (veja bibliografia abaixo). Isto se traduz num grau de tolerância inferior para com desvios de pronúncia. Se a pronúncia é tão crítica assim, com tantas palavras monossilábicas, nas quais qualquer leve variação na pronúncia da vogal ou das consoantes pode resultar noutra palavra, a possibilidade de mal-entendidos aumenta substancialmente. Além disso, se há tantas palavras monossilábicas, a perda de uma sílaba pode facilmente resultar na perda do sentido da frase.

Com relação à velocidade de processamento da informação oral, a baixa sinalização fonética significa também que há menos tempo para decodificar a informação, a qual flui num ritmo mais rápido do que aquele com que estamos acostumados. É como se estivéssemos acostumados a viajar com nosso carro por estradas bem sinalizadas a 80 km/h e passássemos a ter que encontrar nosso destino dirigindo um carro diferente, num lugar desconhecido, sob regras de trânsito diferentes, por estradas mal sinalizadas, dirigindo a 120 km/h.

Ou ainda, é como se desembarcássemos em um desses aeroportos internacionais com poucas placas sinalizadoras. Para quem conhece o lugar, não há problema, mas para quem nunca esteve ali, ...

Tudo isso nos leva à conclusão de que, no caso do aprendizado do inglês no Brasil,

      • Pronúncia é mais importante do que parece.
      • É fundamental o contato intenso com a língua falada e corretamente pronunciada;
      • É contraproducente o contato prematuro com textos, na ausência da língua falada;
      • É comprometedor o contato com modelos de pronúncia caracterizados por desvios.



BIBLIOGRAFIA
Katz, Jack
and Kim L. Tillery. "An Introduction to Auditory Processing". Audição: Abordagens Atuais 1997.

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